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terça-feira, 21 de julho de 2009

Lembranças -cap.1-

A janela ainda estava ali, mas a paisagem não era mais a mesma, muita coisa mudara desde o dia que ela partiu.
Tudo ali cheirava a nostalgia. O sofá vermelho carmim, o lustre com bolinhas de cristal, e a velha janela.
Se lembrava da época em que ficava na ponta dos pés para olhar a chuva que batia nos vidros. Ela sempre gostou de achar formas nas gotas, era sua distração preferida. Olhou para os pés, ela passou a vida na ponta deles... O sonho da bailarina que a casa retorna.
O chão ainda rangia diante dos primeiros passos, dos velhos passos. Se lembrava do seu pai batendo palmas ao primeiro Piquet sem cair. Um sorriso e uma lágrima surgiram na face.
Era estranho se dar conta de como o tempo passara rápido. Rápido demais para ela tentar acompanhar agora.
O cheiro. O ar estava impregnado de poeira e odor de casa fechada, mas ainda assim o cheiro era familiar. Se lembrava perfeitamente da mãe, sempre impecável, com o perfume de... Qual era o cheiro mesmo?Ah... Lavanda!Os cabelos dela cheiravam lavanda.
Ela fecha os olhos, e se lembra perfeitamente dos cabelos castanhos claros, na altura dos ombros, sempre escovado da mãe. Uma dor. Uma angústia. Um arrependimento. Era o perdão que ela nunca deu voltando aos ouvidos.
Outra lágrima.
O tempo passou, e ela não conseguiu fazer dissipar essa mágoa dentro do peito. Já era calejada, nem sabia realmente o porquê daquele bolo na garganta sempre que pensava na mãe. Era como um fantasma que a espreitava e vinha a tona sempre que uma brecha era aberta.E agora ela sabia que não havia uma brecha,mais um rasgo,literalmente,no peito,nas lembranças...Aquela casa era prova disso.Fazia o papel de um dedo na ferida aberta,abrindo-a ainda mais.
Ela sentiu que não conseguia respirar... Tudo girou. Ela se apoiou no batente da janela.
A porta da sala se abriu. E quando ela focalizou aquele rosto parado no batente da porta, teve a nítida sensação que a proteção que ela fez para se guardar das lembranças iam se desmanchando como papeis na enxurrada.
Aquela visita era realmente tudo que ela não precisava para relembrar os velhos tempos na Rua das Rosas.


(continua...)

4 comentários:

  1. Ahh dels! quantas lembranças me veio a cabeça! De musica a textos antigos, de cartas a confissões de amigos!
    Tantas lembranças trazidas e eu quero o restante!!! D:

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  2. Irmãzinha =)

    eu amei esse texto Lembranças.
    Muito fofo viu.
    e tbm muito criativo.
    e tbm o seu blog tá SHOW.!
    parabéns '

    te amo

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  3. Adorei seu blog, voltarei para ver a continuação da história . Belas palavras!!
    ;*

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  4. Sacha, impressionante a maturidade desse texto. E, como os demais comentaristas, também estou ansioso para saber o que você vai fazer com essa angustiada personagem. Beijos do teu avô.

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